A mobilidade como um serviço é o termo utilizado para se referir à mudança do transporte pessoal para uma rede integrada de meios de transporte. Essa rede irá oferecer diferentes soluções para viagens e deslocamentos nos grandes centros urbanos de acordo com a necessidade de cada pessoa em tempo real.
Considerada a maior revolução na mobilidade urbana desde a popularização do automóvel, a mobilidade será tratada como qualquer outro serviço. Através de um único aplicativo, o usuário escolherá a combinação de transportes para chegar ao seu destino com o melhor custo, tempo e conveniência. Do transporte público, privado ou de ambos, o usuário terá a liberdade por optar como deseja fazer sua viagem.
Novas formas de gerenciamento do deslocamento
De acordo com Lucas Girard, pesquisador de cidade e tecnologia da Universidade de São Paulo e consultor de políticas públicas, a mobilidade como um serviço é a nova forma de gerenciar o deslocamento.
“Ainda estamos falando de carro, de bicicleta, de metrô e de ônibus, que não tem nada de novo. O que tem de novo é a maneira de acionar e analisar o serviço”, afirmou.
Para ele, a falta de articulação entre os modais apenas reflete a desigualdade entre regiões de uma mesma cidade.
“A tecnologia é utilizada como uma palavra mágica pelas empresas que a utilizam como propaganda. No entanto, ela só explora a ineficiência da mobilidade na cidade”, disse o pesquisador.
Girard utiliza o exemplo das patinetes elétricas em São Paulo e diz que disponibilizar o serviço apenas em determinadas regiões da cidade não pode ser visto como uma solução de mobilidade urbana.
“Quando falamos em mobilidade, estamos falando sobre distribuição de empregos e o que temos é a falta de serviços em lugares específicos por conta da descontinuidade do tecido urbano”, explicou.
Para o especialista, a mobilidade como um serviço irá oferecer a possibilidade da reorganização do mercado de deslocamento agregando demandas e diversificando as ofertas de serviços. Segundo Girard, por meio dos dispositivos eletrônicos, será possível captar grandes quantidades de dados e produzir uma visão completa do cenário com o intuito de encontrar soluções.
“A reorganização do mercado de deslocamentos tem também relação com a comunicação. Monitorar esses deslocamentos permite que novos serviços sejam criados e divulgados com enorme precisão”, afirmou.
Grandes cidades precisam de mobilidade inteligente
Seja para ir ao trabalho, à faculdade ou mesmo para fazer as compras em um supermercado – o deslocamento faz parte da vida de quem vive nas cidades. E, a cada ano, a população que vive nas áreas urbanas aumenta, gerando consequências sociais, econômicas e políticas que alteram a estrutura da cidade.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), a população mundial, hoje, é de, aproximadamente, 7,6 bilhões de pessoas sendo que 55% (4,2 bi) vivem em áreas urbanas. A previsão é de que o número salte para 8,6 bilhões em 2030 e, aproximadamente, 5,2 bilhões de pessoas viverão em cidades e centros urbanos. Ou seja, a eficiência da malha urbana será cada vez mais importante para os deslocamentos em uma cidade.
De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), 84,72% da população brasileira vive em áreas urbanas. E, se olharmos para a Região Metropolitana de São Paulo, são realizadas cerca de 42 milhões de viagens diariamente segundo dados da Pesquisa Origem e Destino do Metrô. Dessas viagens, mais de 15 milhões são feitas em veículos particulares.
Com tantos carros nas ruas e avenidas da cidade, é natural que se formem congestionamentos já que a malha não suporta o excesso de veículos motorizados de uso pessoal. As transformações demográficas comprometem a infraestrutura da cidade prejudicando os deslocamentos do dia a dia.
É nesse cenário problemático da mobilidade urbana em que a mobilidade como um serviço aparece como solução sustentável, prática e eficaz. Através de um sistema unificado inteligente, um aplicativo gerenciador de viagens irá mostrar ao usuário as diferentes possibilidades de combinações entre meios de transportes para ir de um ponto a outro na cidade.
Longos congestionamentos fazem parte da realidade de quem vive nos centros urbanos. Confira dicas para evitar o trânsito e melhorar a qualidade de vida nas grandes cidades.
A tendência do transporte no futuro
Do inglês mobility as a service (MaaS), a mobilidade como um serviço define a transformação do transporte pessoal para uma rede integrada de diferentes meios de transporte em que pessoas a utilizem quando quiserem. Como uma plataforma de música ou de filmes, a mobilidade será também um serviço.
Para entender melhor, vejamos o exemplo de uma pessoa que deseja ir do ponto A para o ponto B. O primeiro passo é inserir sua localização e o destino final que o aplicativo planejador da viagem irá procurar por todas as possibilidades de transportes disponíveis naquela região e horário.
Dessa forma, o usuário poderá escolher o jeito que preferir para se deslocar. Caso queira pegar um táxi até a estação de metrô, e do metrô ir até estação mais próxima do destino para, então, alugar uma bicicleta compartilhada no trajeto final até o ponto B, o usuário irá conseguir.
Por esse motivo, o francês Hubert Hays-Narbonne, especialista em mobilidade, afirma, em seu TEDx, que “a mobilidade como um serviço é como ter um carro, um ônibus, um metrô, um táxi e uma bicicleta em seu bolso”.
No app, o sistema otimizado combina as melhores soluções e apresenta ao usuário tudo como uma única coisa em tempo real. As reservas necessárias não são executadas uma por uma. Ou seja, no exemplo acima, reservar a viagem de táxi, pagar o bilhete do metrô e o alugar a bicicleta são tarefas que o usuário realiza de forma única ao optar por essa combinação no app.
Como funciona um app de mobilidade como serviço?
Os aplicativos de mobilidade como um serviço já são realidade. Em Helsinque, na Finlândia, a MaaS Global é conhecida como a primeira empresa no mundo a oferecer o gerenciador de viagens através de seu aplicativo Whim. Segundo a própria empresa, a solução Maas é “a maior mudança no transporte desde que os carros se tornaram amplamente acessíveis”.
Lançado em 2017, o Whim continua operando somente na cidade de Helsinque e oferece aos seus usuários e moradores da capital finlandesa planos que reúnem serviços de transporte combinados. São quatro tipos e todos oferecem acesso aos serviços de transporte público, bicicletas compartilhadas, viagens de táxi e aluguel de carro.
Para ter uma ideia, o plano mais barato custa €59,70 e oferece acesso limitado de trinta dias no transporte público regional de Helsinque (HSL), viagens de táxi de até €10 e uso ilimitado de bicicletas compartilhadas. Já o plano mais caro custa €499 por mês e oferece viagens ilimitadas de transporte público em toda a cidade, de táxi, de bikes compartilhadas e carros alugados. Além disso, o app também disponibiliza a opção de pagar conforme você utiliza.
A assinatura mensal oferece um pacote de serviços de transporte em que o usuário utiliza conforme deseja. O valor mensal pode até melhorar problemas de baixa utilização garantindo um salário-base para motoristas de aplicativos de carona, por exemplo. Também é uma opção pagar somente quando utilizar. Usuários como pedestres e turistas se beneficiam com esse tipo de plano porque não utilizam o serviço com tanta frequência.
O modelo de negócio da mobilidade é transformado quando ela é tratada como um serviço. As pessoas já não desejam mais ter um carro próprio e preferem se deslocar nos grandes centros urbanos em transportes compartilhados pela sua eficiência e baixo custo.
A tecnologia da informação ao lado da mobilidade urbana
Com a ampliação da banda larga móvel e popularização dos smartphones, aplicativos de celular surgem como soluções inteligentes para problemas dos centros urbanos. A mobilidade como um serviço pretende usar a tecnologia para resolver o quebra-cabeça da mobilidade urbana do mundo físico.
De acordo com o Ministério de Transporte e Comunicação da Finlândia, primeiro país a adotar o sistema integrado de transportes, a mobilidade como um serviço só é possível graças à multiplicidade de tecnologias e a uma grande base de dados e informação.
“Em ações através do Big Data com ferramentas de mapeamento, é possível ver fluxos, criar mapas de deslocamento, ver onde tem mais e menos demanda e quais são os horários onde tem mais problema”, explica o pesquisador de cidades e tecnologia da USP Lucas Girard.
Assim, os usuários da mobilidade como um serviço serão beneficiados com um serviço inteligente, personalizado e em uma única interface que reflete as máximas possibilidades que atendem às suas diferentes necessidades. O modelo de transporte fragmentado é ultrapassado por uma rede de transporte em que a tecnologia a torna mais eficiente.
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